Três décadas

quarta-feira, agosto 05, 2020

Desde que nasci, eram duas de mim. Uma criança e uma anciã. Ora louca, divertida e serelepe. Ora sábia, careta, chata e melancólica. Fui crescendo e tive que aprender a lidar com as vicissitudes da vida. Passei pela fase de culpar o mundo, me arrependi pelas escolhas que não tomei; culpei as circunstâncias pelos resultados não planejados; passei por uma fase em que eu tinha medo de tudo… Não conseguia dormir e me sentia dentro do filme “Premonição”. Estava sempre com o coração acelerado, e no silêncio da noite minha respiração e sons estomacais eram uma orquestra. Foi quando comecei a ler sobre budismo, autoconhecimento, coisas esotéricas e etc.

(Eu sei, parece receita mágica de bolo. Porém, li de um guru que iluminação não se vende e concordo totalmente. O segredo é: não acredite em nada cegamente e só porquê te disseram, nem mesmo em mim… Questione, análise e aquilo que seu âmago concluir, deve ser o mais perto da sua verdade e acredite nela com sabedoria).

Sempre gostei de ler sobre coisas místicas, mas a criação dogmática censura meus questionamentos e faz eu me sentir mal por ir em busca de novos conhecimentos. Então, a partir do momento em que olhei pra dentro e parei de culpar os outros, passei a me compreender melhor e, consequentemente, a compreender os outros. A calma na voz e a serenidade no meu olhar não vieram de um dia para o outro. Me custou muitas repetições, exercícios de paciência, aprendizados que vieram mais de observações do que vivência.

Na verdade, acho que vivi minha vida em stand by até os vinte oito. Nos 29 tive uma crise e vontade de jogar tudo pro alto e virar terapeuta holística. Mas, como eu já tinha intimidade com meus monstrinhos, sabia que tudo ia ficar bem. E também foi aos 29 que teve a dissolução da dúvida que me acompanhava desde o nascimento. E… não dá pra explicar a minha sensação. Eu só acalentei a minha criança ferida e acenei para a adolescente rebelde que jaziam dentro de mim.

Eu já sabia que 2020 seria tenso, pois o ano do sol iria iluminar todos os cantinhos assombrados da sociedade e por a lanterna nas feridas e nos mostrengos escondidos embaixo da cama – e assim ele está fazendo. É difícil manter o alto astral. Porém, temos que tentar, pois a negatividade também age como um vírus na mente humana.

Durante a quarentena, fiquei um tempão sozinha e tinha momentos em que me sentia invencível e outros em que eu nem saía da cama. E no tempo em que passei sozinha, aprendi a ser mais gentil comigo. Aliás, esse foi o meu primeiro aniversário em que não tive o bendito inferno astral. Talvez, pelo fato de que passei todo o ano de 2019 em crise existencial. Agora, apesar das dúvidas, fui abençoada com uma paz de espírito tão grande que, por vezes, acho que estou ficando louca por achar que tudo vai ficar bem, apesar das notícias dizerem o contrário.

Hoje completo três décadas e alguns dias… Pensava que nessa idade eu me sentiria uma baita de uma mulher. De fato, me sinto bem resolvida. O suficiente para lidar com as minhas antigas expectativas da idade do sucesso. Muita gente alcança o sucesso bem antes dos trinta. (Estou sendo prolixa, mas o que é mesmo o sucesso?!) Eu poderia estar no ápice, ter tomado outros caminhos, mas não podemos super valorizar as escolhas não feitas. Afinal, não se pode mudar o passado e quem garante que realmente seria melhor?!

Enfim, tenho trinta anos e não estou no topo. E depois de caminhar em círculos, estou olhando para a montanha pela primeira vez e sinto uma energia de início em todas as minhas células. Tenho 30 anos e ainda sou criança, e ainda sou anciã e estou pronta para ser adulta.

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No ar desde 2011, o "Não me venha com desculpas" é um blog pessoal, feito por uma pessoa (a)normal.

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