HISTÓRIAS CRUZADAS #02

quinta-feira, outubro 29, 2020

CAETANO

Caeatano gostava de escrever, criar histórias, contar sobre seus amores e dores em narrativas curtas. Ele se considerava criativo, mesmo acreditando que tudo o que produzia era ruim. Amigos não o apoiava, familiares não tinham interesse em seu trabalho… O jovem Caê se perdia a cada dia, deixando de lado seus sonhos e objetivos.

Por um tempo, Caê deixou de escrever e seguiu com a vida monótona. Por dentro, lá no seu íntimo, ele criava histórias e mais personagens; por fora, esbanjava um sorriso falso e fingia que tudo estava bem. E assim ele prosseguiu a jornada, tentando encontrar motivos pra sorrir e não abandonar seus talentos.

Caetano havia acabado de entrar na casa dos 20, ainda desconhecia muitos dramas da vida adulta. As incertezas quanto ao futuro o amedrontava, mas algo o motivava a não desistir. Mais do que amar, ele queria ser amado… Para ser amado, ele precisaria se amar primeiro. Por não saber como conseguir as duas coisas, ele decidiu se matricular num curso de teatro, para tentar perder a timidez e a vergonha de si mesmo.

CADU

Cadu tinha exatos 22 anos de idade. Ele cursava Design numa faculdade particular e não sabia o que queria para o seu futuro. Virginiano com ascendente em leão e lua em peixes, o moço tinha uma criatividade acima do comum. Era bom com criação de layouts pra internet, edição de vídeos, danças e interpretações gravadas para o Instagram.

Uma escola de teatro inaugurou recentemente na cidade e estava oferecendo descontos às primeiras matrículas. Cadu viu ali a oportunidade de se especializar em mais um de seus talentos e correu para a fazer sua inscrição.

Dia 21 de agosto. [Escola de Artes Bela Vida]

No primeiro dia de aula, ambos os jovens estava sentados lado a lado na poltrona do teatro, esperando a professora Eva chegar. Cadu estava relaxado, alegre por iniciar mais um projeto na sua vida. Caetano estava completamente intimidado por ver a maioria das pessoas se enturmando, conversando…

Quando ia apoiar o braço no descanso da cadeira, Cadu topou no braço de Caetano, assustando-o.

– Desculpa, cara – disse Cadu, abrindo um sorriso em seguida ao ver os olhos arregalados de Caetano.

– De boa. Só tô meio desligado hoje. Sabe como é né… Vergonha demais de estar aqui.

– Que isso, mano. Teatro é mó de boa. Você vai gostar. Dizem que a professora Eva é ótima. – Cadu tentou aliviar a barra do colega.

Após conversarem sobre os motivos de começarem aulas de Teatro, a professora Eva apareceu na porta do Teatro, indo direto para o palco para conversar do alto com os alunos.

A professora Eva tinha os cabelos pretos, cacheados e usava uma macacão super folgado. Ela era caricata e com um humor invejável. A primeira coisa que pediu foi para todos subirem ao polco, sentarem em posição de lótus e que se apresentassem.

Quando chegou a vez de Cadu se apresentar, ele disse que era gay em todos os sentidos da palavra, tanto na sexualidade quanto no significado (alegre). No momento de Caê, ele olhou para Cadu e se assumiu gay também, dizendo a todos que era a primeira vez que dizia aquilo para alguém.

– Meu objetivo é começar um novo capítulo na minha vida, sabe? Gosto de escrever histórias, mas vendo todos aqui, acho que chegou a hora de escrever a minha própria história. Sem máscaras, sem mentiras, sem me esconder – disse Caêtano, deixando as lagrimas que segurava caírem.

– Que isso, meu lindo! Pode contar com a gente sempre. O teatro é um espaço onde podemos ser quem quisermos. Se você quiser se outra pessoa, sinta-se à vontade. Mas tá tudo bem você ser você mesmo. Pela primeira vez – professora Eva levantou do chão e foi em direção de Caê, pedindo para todos se juntarem num abraço coletivo.

Durante toda a aula, Cadu e Caeatano fizeram dupla à pedido de professora Eva. Já no primeiro dia, foi passada uma lição para casa: ensaiar os diálogos de um peça para lerem no próximo encontro.

Cadu ficou muito empolgado com a lição, pois iria tentar usar as técnicas de entonação de voz e até mesmo decorar falas. Caetano ficou um pouco tranquilo, porque iria se encontrar com o colega no dia seguinte para ensaíarem as falas.

Inesperadamente, uma amizade surgiu.  

Caetano pensava que não tinha nada pra ensinar a ninguém, mas a verdade é que sua sensibilidade ajudava na criatividade. Cadu estava empolgado com a nova amizade e achava a timidez do colega um charme, além de muito atraente…

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Sobre o blog


No ar desde 2011, o "Não me venha com desculpas" é um blog pessoal, feito por uma pessoa (a)normal.

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